Dica de Livro: The Big Switch: Rewiring the World, From Edison to Google
A eletricidade mudou o mundo no século XIX. Nas indústrias os motores elétricos substituíram o trabalho manual e as intrincadas máquinas a vapor, e nas ruas as lâmpadas elétricas começaram a substituir nas as lâmpadas a gás e querosene. Nesta época a energia era gerada de forma privada por cada empresa, e companhias como a Edison General Electric Company (mais tarde simplesmente General Electric) surgiram para atender a um nascente mercado de geradores de energia. A Edison vendia os geradores elétricos e fornecia serviços de consultoria para serem instalados em cada indústria.
A verdadeira revolução no entanto viria um pouco mais tarde. Um dos executivos da Edison, Samuel Insull, fundou uma nova empresa que vendia para os consumidores não os equipamentos, mas a própria energia elétrica. Insull comprou uma quantidade até então nunca vista de geradores e criou em Chicago a primeira rede elétrica, oferecendo energia para as empresas cobrando pelo consumo de cada uma. Insull mais tarde explorou novas formas de tarifação para explorar ao máximo da sua infraestrutura, cobrando menos pela energia consumido de madrugada e criando sobretaxas nas horas de pico.
A energia gerada em casa não tinha como competir com o ganho de escala oferecido pela rede elétrica. Mais ainda, a rede elétrica permitiu que a eletricidade chegasse aos domícilios, viabilizando o aparecimento de pequenos equipamentos elétricos de uso caseiro, chamados eletrodomésticos.Foi a rede elétrica, e não necessariamente a energia, quem realmente mudou a vida das pessoas.
Em The Big Switch, Nicholas Carr usa esta história para fazer um persuasivo paralelo com o que a Internet está fazendo com a tecnologia da informação. Segundo Carr, a Internet permite que mega datacenters como os da Microsoft, Google e Amazon possam fornecer serviços de TI de forma mais barata e confiável que os serviços oferecidos in-house. Tecnologias como virtualização fazem com que toda uma infraestrutura de TI possam ser montada sem custo de aquisição, tarifada somente pelo consumo, e entregue ao usuário qualquer lugar. Os servidores vão estar na "nuvem" (cloud) e não mais no CPD.
Os sintomas desta mudança já podem ser vistos. A Sun Microsystems está acabando com os seus CPDs. O Twitter (aquele irritante serviço de blog instantâneo) e vários outros serviços online na verdade não tem um único servidor, usando a infraestrutura fornecida pela Amazon. Um relatório do Radicati Group estima que em 2011 25% dos clientes do Microsoft Exchange vão ter suas caixas-postais rodando em servidores da Microsoft, em datacenters da Microsoft. Não é a tôa que, assim como Insull em Chicago, Google e Microsoft estão construindo datacenters com massivo poder de processamento. O livro traz uma explicação coerente e clara do que está por trás de tudo isto, e para onde estamos (rapidamente) indo.
Bem, e o que isto tem a ver com segurança? Tudo. Para começar, a maioria das atuais arquiteturas de segurança é baseado em proteções de perímetro e de rede - firewalls, sistemas de detecção de intrusão, etc. Como fica isto agora com se os dados e os serviços na cloud? Como proteger dados que vão estar sob custódia de um fornecedor? Como garantir a disponibilidade destes serviços (uma pergunta muito pertinente devido à recente indisponibilidade da Internet em São Paulo)? Como proteger os computadores e dispositivos móveis dos usuários, agora plugados diretamente na Internet?
Mesmo não sendo um livro sobre segurança, The Big Switch descreve o pano de fundo para todos estes desafios que vamos enfrentar nos próximos anos. O livro ainda aborda outras questões interessantes, como por exemplo se o fácil acesso a informação está nos emburrecendo, e como por trás de uma aparente liberdade a Internet pode permitir um controle muito maior das nossas vidas. Altamente recomendado.