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Open XML: IBM Agora Quer Cassar os Votos do Brasil na ISO

Não é segredo nenhum que a IBM está financiando um poderoso lobby para impedir a aprovação do padrão aberto Open XML na ISO, como parte da sua estratégia de forçar via legislação o uso do padrão ODF pelos governos. Este esforço já produziu algumas cenas "curiosas", como o fato do documento de comentários do Quênia (bastante negativo em relação ao Open XML) ter sido escrito por um funcionário - alemão - da IBM! Esqueceram de mudar os metadados do documento PDF...

Mas o mais recente lance da IBM é ainda mais curioso. Um rápido prêambulo antes para entendermos o contexto do que está acontecendo.  

Há duas semanas aconteceu em Genebra o BRM (Ballot Resollution Meeting), a reunião da ISO onde os países membros do comitê JTC1 decidiram qual seria a versão final do padrão Open XML, a ser aprovado (ou não) posteriormente por estes países. Nesta reunião são discutidos os comentários técnicos apresentados previamente por cada país, e apresentada a resposta sugerida pelo editor do documento. Depois, por consenso ou votação, é aprovada a resolução dada para aquele comentário, aprovando a sugestão do editor ou outra sugestão dada pelos países.

O resultado do processo é um padrão mais aperfeiçoado e mais perto do consenso dos países, que é então submetido a uma votação em até 30 dias após o BRM. É importante notar que a votação sobre se o padrão vai ser aprovado acontece só agora nestes 30 dias - durante o BRM é apenas aprovado qual será a redação final que será votada pelos países.

O comitê JTC1 tem países que são membros "P" (participantes) e países que são membros "O" (observadores). Isto é uma escolha de cada país, e que traz um impacto direto em várias etadas do processo de construção da norma. O Brasil é um membro "O" do JTC1, por escolha da ABNT.

O BRM no entanto não faz esta distinção, porque não está sendo votada a aprovação da norma e sim a redação que irá a votação. Neste caso, no início da reunião, o convenor responsável por conduzir o BRM consultou a ITTF - grupo que cuida do dia a dia de funcionamento do JTC1 - e considerou que tanto os membros "P" quanto os membros "O" poderiam votar no BRM. Isto foi aprovado por todos os participantes, e foi uma ótima decisão para o Brasil, que pôde participar e votar na definição do texto final.

De acordo com todos os relatos a delegação brasileira foi uma das mais ativas, e é inegável o enorme esforço feito por todos os seus membros. Meus parabéns a eles.

A surpresa veio no final da reunião. Após o texto final ser aprovado, contendo a grande maioria das recomendações do editor, a IBM protestou alegando que as regras de votação estavam erradas. Segundo a IBM, os países "O" - entre eles Chile, Grécia, Polônia, México, Israel e Brasil - não deveriam ter direito a voto. As suas opiniões deveriam ser suprimidas e todos os votos precisariam ser recontados.

Tudo bem, eu acho que a IBM tem todo o direito que querer melar o BRM "no tapetão". Mas que fica feio, fica. Primeiro porque as regras estavam acordadas entre todos os países participantes, inclusive o Brasil, e a IBM - que tinha vários representantes na reunião - ficou quietinha até final, levantando este ponto somente quando ficou claro que a reunião tinha sido bem sucedida.

Segundo, e mais importante, fica feio porque a IBM trata assim o Brasil e a ABNT com escárnio. A IBM é membro participante da comissão CE-21 da ABNT, que estuda e define a posição do Brasil sobre o Open XML junto a ISO, e participou de todo o processo. Funcionários da IBM participaram das reuniões, definiram os comentários do Brasil, decidiram como o Brasil iria votar, indicaram os enviados do Brasil para o BRM. Em nenhum momento neste processo a IBM se manifestou dizendo que o Brasil não deveria ter direito a voto, ou que deveria mudar o seu status para "P". Preferiu esperar a reunião acabar para vir agora a público e querer jogar fora todo o trabalho da comissão.

O pior de tudo é que a manobra provavelmente não vai mudar nada - a ITTF foi bem clara sobre qual seria o procedimento e é improvável que o resultado do BRM seja modificado. Os votos do Brasil vão ser mantidos. Mas a IBM deve algumas explicações na ABNT.

[Para quem tem interesse, o FAQ oficial sobre a reunião está postado em https://www.itscj.ipsj.or.jp/sc34/open/0932.htm, e é o melhor documento para entender o processo e o que aconteceu. Os documentos oficiais da reunião estão linkados em https://www.adjb.net/index.php?entry=entry080306-082306].

Comments

  • Anonymous
    January 01, 2003
    A ISO divulgou hoje que o padrão aberto de documentos Office Open XML é agora um padrão internacional

  • Anonymous
    January 01, 2003
    Quem acompanha o processo de padronização do Open XML na ISO certamente já escutou a IBM (e os lobistas

  • Anonymous
    March 22, 2008
    The comment has been removed

  • Anonymous
    March 25, 2008
    O sujo falando do mal lavado. Nada descreve melhor essa situação :-) Independente do que acontecer nessa votação da ISO, todos sabemos o que vai acontecer. O OOXML é o padrão do MS Office, a suite é o padrão de facto do mercado, logo o formato padrão do mercado será o OOXML, quer a IBM queira ou não. Mesmo porque, de uma forma ou de outra, jamais a MS permitirá que outras suites sejam 100% compatíveis com o Office dela. Se por algum milagre alguém conseguir um código que consiga gerar um arquivo 100% compatível com o MS Office, baseado nessa especificação do OOXML (o que é impossível, já que ela é pra lá de falha), a MS simplesmente muda a forma como são tratados os arquivos, deixando de novo incompatível com o Office. Seja ODF, OOXML, etc. Para os usuários, quem estará errado é a suite concorrente, "que não consegue abrir direito um arquivo gerado pelo Word"... Interoperabilidade não interessa a MS, já que fazer isso seria abrir as portas para uma concorrência feroz. E não sou eu quem diz isso, é o próprio senhor Gates. Não vê quem não quer (ou não pode né, afinal, temos que comprar o leite das crianças, e temos que ter cuidado com o que falamos em blogs por aí... :-)